Sinto meus cabelo serem alisados de forma inesperada, viro-me para o outro lado da cama e lá está você!
Sentada, me olhando com seus olhos cansados da vida.
Eu te perdoo.
Te perdoo pelo seu erro de não haver uma solução para o que nunca resolveram com você.
Fique com seus demônios que um dia acreditei serem meus por um tempo significativo. Não sei o peso da Cruz que carrega. Não é justo com você carregar o papel de Jesus agora.
Você é a minha maior referência inconsciente. Pontos peculiares da minha personalidade, dos meus costumes e manias mais sublimes. Dos meus sentimentos e como transmito. Em minhas desordens e virtudes.
Te perdoo por criar três tristes e não entregar nenhum prato de trigo, e sim resquícios deles.
Te perdoo por não ser o que esperei em momentos sublimes da minha vida, mas sim necessária.
Te perdoo pelo que me fez sentir ao descobrir minhas descobertas. O princípio dos meus prazeres atuais. Não chore, é o que eu sou, e eu não sou um monstro. Eu ainda estou aqui. Não faça isso comigo.
Te perdoo por carregar minha dor, a minha cruz. E por me ensinar, do seu jeito desajeitado, a fazer o mesmo.
Te perdoo por me fazer olvidar o sentimento mais puro da terra. O espelho amundiçado de uma sujeira que não fiz. Eu quero amar de novo.
Te perdoo por me fazer de Atlas, por remediar, condicionar, intervir em episódios que causará em seus romances desromantizados.
Te perdoo por não me balancear, por não acompanhar meu crescimento, de ver que o meu tênis cinza da Nike já não serve mais nos meus pés, pois cresceram sem nenhum aviso prévio.
Te perdoo por mudar bruscamente, nossas configurações familiares. E possivelmente, psicológicas. Já passamos por dor demais. E o único ponto que me resta é ir embora.
Te perdoo por nunca dizer o que sente de forma direta e me ensinar a reproduzir a repressão.
Te perdoo por cozinhar todas as vezes um pudim delicioso como forma de desculpas ou apenas de dizer que está tudo em anistia.
Eu quero falar mãe, quero poder olhar pra você e dizer um mundo em uma única frase. Que custará toda a minha estrutura emocional que construí em cima de um grande buraco verbal.
Quero poder te olhar nos olhos e te perdoar por ter sido suficiente para a minha insuficiência. Quero poder te dizer o quanto o seu despreparo não fizeram com que eu me tornasse anormalidades que um dia me apontará em momentos de repulsão.
Reconheço que me descobri vendo você se redescobrir.
Sei que estará lá. Para possíveis ligações, abraços apertados, gritos estridentes e tudo que há de você!
Buscando por mim em promoções, ensinos ( trancados), ligações aleatórias, catracas puladas, festas caóticas, uma cerveja gelada e se permitir, um trago.
Eu sou o seu mundo, mãe, e por muito tempo odiei o meu, por muito tempo carrego uma parcela que não é minha, sua parcela individual. Carrego esse cordão umbilical psicológico.
O melhor espelho é o do outro. Sua frase mais confessa.
Não reproduza erros que você assiste acometerem.
Quero ser forte, quero ser possível. Quero poder dizer que consegui e não ter que dizer mais nada. Quero chegar lá.
Me olhe nos olhos mãe, e veja que sou o fruto das suas desordens e 1/4 de um óvulo. E que de livre e espontânea vontade, escolheu me condenar a vida.
Mas hoje, não serei o caos que um dia fugiu, que um dia foi e que, possivelmente, poderá ser. Onde, um dia correu para as colinas, entrou no quarto, fechou todas as janelas, se acolheu juntando as pernas em seu magro tronco, desejando ser só um sonho.
Um dos meus maiores erros, foi acreditar que somente eu havia monstros embaixo da cama. Enquanto você também havia, e que os monstros que poderiam puxar meus dedinhos tortos, também puxariam os seus.
Aqui jaz a minha ignorância. Aqui jaz a minha desumildade. Provem de meu sangue, vejam a minha renúncia.
Te perdoo mãe. E você? Me perdoa?
Refletindo enquanto faço um belo pudim,
Roses.
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