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Querida Jannet

 Esses dias me peguei pensando em você. Em toda a nossa história, e penso que um momento de nostalgia escrita é sempre bem vindo.


Lembro-me bem do momento sublime em que nos conhecemos. Deus seja louvado por implantar anjos no inferno que chamamos de ensino médio. Principalmente, os rebeldes repetentes. Um gênio incompreendido.


Lá estava você, na mesma sala que a minha, com seus moletons de séries de terror, seus cabelos grandes cheios e anelados. Quebrando qualquer contexto de estereótipo com uma Crocs cinza. “Quem é essa baiana?” E logo depois “Eu gostei daquela menina”. 


Lembro do momento em que conversamos pela primeira vez, uma chance foi dada, e quando percebo, você já me olhava além da minha carranca e atitudes maçantes. E eu, além das suas crocs horrorosas  Que você sabia que eu julgava ( horrores).


-Vamos para minha casa. É aqui perto.  


Ao chegar na sua casa e no seu quarto, pôde me mostrar o seu ambiente liberto. As suas guitarras desafinadas, os seus posters e camisetas de banda quase dilacerados e a sua coleção de all stars ( escuros de preferência). Encontro seus ursinhos e Barbies bizarras, e não podia faltar o seu cachorro barulhento que não gostava de mim.

Roupas jogadas em cada aresta desse grande quarto. Um lugar só seu. O seu mundo. 



Sua família sempre foi diferente da minha. Sempre com algo novo a apresentar. E você sempre com um problema e a pedra nas mãos. Por ser a caçula da família, muitos problemas eram voltados a você. Você sempre foi rebelde. Assim como eu. Porém em um grau maior de inconsequência. 


O não era um aperto no gatilho pra você, suas relações sempre foram intensas e inconstantes. A todo momento você quis ir embora. Mas sempre algo mudava o seu desejo. 


Nossa amizade foi se ascendendo, e não demora muito para que eu veja o quanto somos parecidas. Na alegria extrema e na dor profunda. Na inconstância de desejos e aptidões que acreditávamos ter. 


Adorava fazer planos com você, sempre que vinha com algo novo, virava comum entre a gente. Assim como você também. Uma troca inacreditável. 



Na época, me encontrava em um relacionamento, assim como você. Há mais de 4 anos, acreditava que nunca chegaria nesse ponto( Spoiler, não consegui).  E por entender a sua cabeça, sabia, que lá no fundo, você se libertaria do que se prende e não almeja.



As merdas acontecem. E finalizamos nossos relacionamentos, seguimos nossa vida, uma construindo a outra. 


Sei que você precisava de mim, e eu de você. E por coincidência essa escolha foi nossa. Vivemos o que tínhamos que viver em período solo. 


Cada dia que passava, me sentia dentro da sua pele, compartilhando seus gostos e o seu ódio na humanidade. Aquilo me deixou mal, e hesitei um pouco em enxergar isso. 


Tomei atitudes ruins, que me levaram a lugares que nunca quis chegar. Sentia um ódio da humanidade que nunca sentia antes. Meu sentimento de rancor crescia cada vez mais. E cada vez que me distanciava. Algo de muito ruim acontecia com você a ponto de me fazer voltar. Me sensibilizava e te bajulava. Sentindo a obrigação de cuidar de você. Manipulada e presa em um ciclo de narcisismo que nunca imaginei que pudesse sair, antes mesmo de ver que estava presa. E foi real. 


Associar uma relação amorosa com manipulação e narcisismo é muito mais fácil do que uma relação familiarizada. Onde selecionamos quem representa a organização familiar, seja ela de sangue ou não.


Um momento não faz o sentimento.

Sentimentos de uma amizade que não estão em níveis sadios. E que a decisão do corte, não deve ser levada como planos incogitáveis. Sair da neblina para enxergar melhor é uma escolha.


Veja você mesmo, e olha para a sua amizade.


Suas lágrimas, não sao suas

Suas dores não pertencem a você.

Sua preocupação? Seu incômodo, não são provenientes a você. 


Não é preciso de muito para enxergar o que está na sua frente.


Decidi por um instante, dar três passos para traz e fazer as escolhas de acordo com o que sou. Mas isso não foi bom pra nossa relação. 

Vejo que as minhas escolhas foram despejadas em sentimentos de dor e rancor em você. Que eu não era o que você construiu em cima de mim. E foi então, a primeira vez que nos magoamos. Você era a minha melhor amiga. E deveria entender que não sou a sua projeção.  Eu não devo sentir a sua dor. Você deve passar por ela. E a minha presença só atrasaria o processo do seu autoconhecimento. 


A manipulação em uma amizade existe. E foi tão prejudicial à nós duas que hoje, você, que deveria morar em uma lembrança boa, também carrega o peso da minha dor em a ter perdido.


Acredito que, no que entendo sobre relações, não existem limites, mas sim níveis sadios. Suas amizades não devem ser como parasitas que destroem o seu cérebro. Embora te proporcionem sentimentos, momentos, palavras e litros de álcool.  O narcisista é sábio, e ele te da bons tênis para que dance a música que ele tocar. 

~E você, caro amigo que se acha esperto, está dançando agora.~


O melhor caminho que seguimos foi a nossa reta individual. Onde você criava a sua família a quilômetros de distância da sua origem. Hoje vejo que não sou ninguém para questionar o que você pensa o que é melhor. Você se encontrou. 



Mas agora, você foi embora. 


Morta. 


E um sorriso que eu sempre vou me lembrar. Você encontrou seu caminho. Que brilhava os olhos ao recita-lo. O escolheu. E eu, de modo mais sensível possível, não pude fazer nada. Volte para o seu lugar. Gênio incompreendido.  Prometo me cuidar. 


 

Eu amo você. De longe. Mas tão perto.


Com pesar, 

Roses. 

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