Dias diferentes vem se somando em minha memória.
Ando pelas ruas de São Paulo, o vento do outono-inverno congela meu rosto, e agitam meus cabelos ruivos.
O que me faz sentir o pouco de humanidade que me resta. E acabar com o efeito dos finalizadores que garatiram efeito anti-frizz.
Ainda vai existir o dia em que eu acordarei e me importarei com isso. Eu amo essa época onde o tempo está em seu período de senilidade.
Quando só, eu me encontro distorcida em reflexos, que vejo em poças d'água, vitrines e espelhos. E por muitas vezes, o meu eu, desativa o modo social, o modo pelo qual me importo, onde sinto emoções. Onde sinto você.
O meu clítoris social é cortado. As dores já não resplandecem mais. E os prazeres também.
Me sinto um zero, um nada. E sei que de fato sou. E isso não me fere.
Que triste, mas o que está dizendo, ora? Você TEM TUDO!
UMA CASA que não é sua
UMA FAMÍLIA QUE TE AMA apontar erros é obrigação, é normal! Mesmo que venha a te ferir.
VOCÊ É LINDA! que cara é essa? desce pra colocar uma maquiagem.
E INTELIGENTE! nossa, ainda bem que ele te ensinou direito.
ESTUDA igual uma filha da puta.
SABE FALAR COM AS PESSOAS tenho a melhor seleção de máscaras e filtros.
'Obrigado pelos elogios, com certeza irei considerar.'
Tive uma conclusão com base em uma experiência. Formulada atualmente.
O narciso, é apaixonado pela sua própria imagem, pela sua própria feição. Me questiono sobre seus sentimentos, será ele uma pessoa feliz? Uma pessoa triste? Será ele uma pessoa carente, onde só consegue desfrutar apenas de si, e da sua própria forma? Nada o abala. Sua figura é a sua autossuficiência.
O nível narciso em que você chega, é onde situações externas, por mais que te envolvem, não te enrolam. Pois o seu senso de importância é a sua maior deficiência.
Isso é atrativo para os amantes do caos. Que nunca saem feridos. Assim como as cenas de Hollywood, onde o protagonista caminha sobre os estilhaços do carro em uma clichê explosão de fundo.
A sua fala bonita, que abrange diferentes pontos de vista, e sua independência alcançada, me fazem flutuar com você, em um barco sem água, sem maré, apenas com a luz da lua. Navegadores da oralidade. Em seus diversos sentidos.
Porém não é necessário um grande período para notar a sua tamanha fabulação.
A sua vontade de descobrir o mundo lá fora, e não ter noção do que te espera, me faz gozar da esperança perdida. E o quanto o meu conhecimento não seja o suficiente.
A sua instabilidade e incapacidade de se manter em rotina, em algo que possa te gerar bons frutos, a longo prazo, te assusta e te faz sucumbir. A consequência é resultado das suas escolhas, e sua covardia e preguiça, te isentam dela. Me fazem questionar sobre o que se mantém e o que mantenho.
Não quero me envolver em maiores responsabilidades, pelo qual sou demandada diretamente. Onde por escolha, carrego comigo o seu encargo. Lidei muito tempo com isso, e digo essas palavras com firmeza.
Não me sinto mal por reconhecer que posso não significar algo aos olhos de quem vê. Na boca de quem fala, no toque de quem sente. Compreendo o espaço que ocupo. Quem aumenta a casa, quem abre as portas é você! Onde me agrego. Porém, não a longo prazo.
Sei a sua importância, e compreendo, por onde, ela se encaixa. Uma troca constante, que só machuca quando o desejo, ou a falta dele, não vem de você, e o seu ego é ferido quando contrariado. A disponibilidade e acolhimento, sempre devem ser proporcionados por ti, mesmo não sendo você quem acolhe. Bebe até a última gota da inocência e ingenuidade de quem te acompanha, goza da ideia de ser o superior, o protagonista, e não somente da sua vida ridícula, mas sabe a influência que tem, e não é nem um pouco cauteloso com isso. Supre suas necessidades por hora. E quando não te atende, a missão se cumpre, e é onde vem o descarte. Mas isso não é ruim pra você, não é?
E ISSO TE PREENCHE.
ISSO TE FAZ BEM.
ESSE é o seu modo de viver.
Ser dono do seu próprio mundo hostil, que constrói com mentiras, omissões e controle. A submissão não é um papel que lhe cabe bem. As pessoas se encaixam em situações que você molda. O seu sucumbir ao não conseguir o que deseja, te torna único. A única relação que perdura é com a solidão. Você conseguiu o que queria, atingiu o ponto mais alto, e agora? Qual o seu próximo passo?
A dor é uma fábula. O seu enredo morre aqui. Te desvendei e eu não te sinto mais.
Até porque é sobre mim, de quem estamos falando. Meu bem.E olha só, mais uma noite onde me pego na vértice alta, mais fria da casa. Em minha nova taça, Pergolase encontra na metade, e memórias me surgem a cada gole sutil. A cada lento trago. Eu aprecio.
Contemplo a vista, São Buraco do Campo me surpreende em período sazonal. O céu estrelado, o vento frio e
nuvens que me fazem querer partir junto. Me encontro à deriva.
Lembre-se que estamos no mesmo barco, e no dia em que for pior, conversaremos a respeito.
Ass. R.
O narciso nunca retratou confiança, e muito menos alta acertividade. Concordo fortemente com a retratação criada sobre tal face natural humana, quase como um alternativo alterego de cada insignificância que caminha com um CPF no bolso. Belo texto, e, bela escolha de vinho!
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